Vó, partiste sem dizer nada. Nem avisaste! Não nos disseste que ias para perto do teu amor. Precisavas mesmo ir já? Ele não podia esperar? E nós? Achas que já não precisávamos de ti? Achas?!
E agora? Quem é que me vai trazer língua da sogra da Padaria da Dona Graça? Quem é que me vai trazer rebuçados ao dia 10 de cada mês? Quem é que me vai descascar as romãs em Outubro? A quem é que eu vou despentear o cabelo? A quem é que vou trazer as gomas novas que tiver na loja? Quem é que vou chatear por comer laranjas à noite? Com quem é que vou ver a novela? E partilhar as pipocas à meia noite?... com ninguém... É, deixaste-me sem ninguém. Fazes-me tanta falta. Fazes tanta falta cá em casa... nem sabes. Ou melhor, sabes. Eu sei que sabes e por saberes isso é que ainda não consegui perceber porque foste embora assim... nem fomos a Fátima como me tinhas pedido... nem a Viseu visitar os teus sobrinhos!
Tinhas assim tanta pressa de ir? Não podemos fazer nada do que tínhamos combinado. Estava sempre a trabalhar e agora que tenho tempo já não estás aqui para me fazeres companhia. Não é justo. Não foste justa comigo. Nem sabes o que ando a passar desde que te foste embora, nem imaginas as crises que a mãe tem tido, piores que aquelas que ela tinha antes, lembras-te? Mas desta vez são por tua causa e eu acho que já não tenho força para a ajudar... até porque acho que ela não quer a ajuda de ninguém... oh, tu sabes, ela fazia o mesmo contigo! Sabes tão bem, tal como eu.
Mas eu percebo,
tinhas saudades do teu amor. Mas agora sou eu que tenho tuas, 1 mês e 2 dias depois.
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