terça-feira, 30 de março de 2010

Morre lentamente...

"Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos ís"
a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando esta infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte
ou da chuva incessante,
desistindo de um projecto antes de inicia-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe afirmam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar (...)"

Pablo Neruda

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